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O AMOR BOTOU OS INGLESES NA RODA – para minha filha

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O AMOR BOTOU OS INGLESES NA RODA – para minha filha

    Ontem,

    assisti ao jogo do Flamengo contra o Chelsea pelo Mundial de Clubes.

    Sozinho.

    Luzes apagadas,

    a televisão azulando a parede.

    Faltava algo.

    Ou melhor:

    alguém.

    Minha filha,

    de quatorze anos,

    havia viajado com a mãe.

    E ali me faltava o comentário ácido,

    a superstição inconteste da adolescência,

    a convicção rubro-negra que ela carrega com uma paixão que me comove.

    Ela,

    que conhece a escalação melhor do que a tabuada.

    Que recita estatísticas com a autoridade de todas as deusas...

    Ela,

    que é uma flamenguista de corpo e alma,

    mais alma do que corpo,

    como deve ser.

    Ontem,

    eu assisti ao jogo com um olho na TV e outro no zap.

    Ficamos juntos assim:

    separados por quilômetros,

    unidos por uma telinha brilhante e um escudo no peito.

    O Flamengo jogava bem,

    eu dizia.

    Ela falava:

    “Pai, tinha de ser Danilo e Ortiz, e não Danilo e Léo Pereira.”

    Ortiz é,

    pra ela,

    o melhor zagueiro do Brasil.

    E é lógico que ela tá certa.

    A paixão tem sua lógica,

    e o Filipe Luís tem a dele,

    mas o amor filial,

    esse é foda,

    esse é cúmplice.

    O jogo seguia:

    tensão,

    atenção,

    e eu suando em 4K.

    Puta que pariu,

    fudeu!

    Um descuido do Wesley e,

    gol do Chelsea.

    Ela ficou arrasada.

    Disse que o Flamengo não ia ganhar.

    Ficou nervosa.

    E eu,

    sem saber conjurar milagres,

    tentei acalmá-la.

    Disse que tudo podia mudar.

    Que o futebol é um truque do destino.

    Mas é claro...

    não sou adivinho.

    Nem desejo ser.

    No segundo tempo,

    o time seguiu bem.

    Filipe Luís tirou o Arrascaeta e pôs o Bruno Henrique.

    Algo estava por vir.

    Bruno Henrique é desses homens que desafiam estatísticas:

    corre,

    dribla,

    marca e tem aquele quê de milagreiro.

    Foi lá e empatou.

    BH é decisivo para um caralho.

    Naquele instante,

    me emocionei.

    Pensei nela.

    No brilho dos olhos que não vi.

    Comecei a escrever.

    Ela mandava áudios,

    eu respondia:

    “Porra, filha, empatou!”

    “Você merece isso. Você é muito Flamengo. Você é foda!”

    E então,

    enquanto ainda digeria a alegria,

    passe dele,

    do cara,

    de cabeça Bruno Henrique ajeitou e Danilo marcou o segundo.

    Eu chorei aos prantos de alegria.

    Chorei por ela.

    Pela emoção que ela estava sentindo.

    Porque,

    naquele instante,

    o que eu pensava era:

    “Isso é pra você, filha. Isso é seu.”

    Trocamos mensagens,

    exaltados:

    “Essa vitória é sua. Você merece!”

    Ontem...

    foi muito mais do que um Flamengo x Chelsea.

    Foi muito mais do que um espetáculo.

    O Flamengo jogou como se o mundo fosse rubro-negro.

    Mas o que me tocou não foi o jogo enquanto aula de futebol, 

    e sim o elo,

    essa interseção entre mim e minha filha.

    O Flamengo,

    ali,

    como uma ponte,

    não de cimento,

    ou de madeira,

    mas de afeto.

    Mesmo ausente,

    ela estava comigo.

    No zap,

    na emoção,

    na respiração ofegante.

    E isso,

    meu bróder,

    isso é amor.

    É família em seu estado mais bruto e verdadeiro.

    Sim,

    é sobre o Flamengo.

    Mas,

    sobretudo,

    sobre ela.

    Sobre nós.

    O Flamengo é isso.

    Une.

    Junta.

    Aproxima.

    Faz do jogo um gesto de amor.

    Faz da torcida um abraço.

    E ali,

    no silêncio da sala,

    com o clarão da TV refletido na parede,

    tive certeza:

    o Flamengo venceu,

    o Flamengo é foda!

    Mas o que se eternizou...

    Ah,

    o que eternizou foi esse amor insano que tenho por minha pirralha.

    Filha,

    o pai te ama.

    Nunca se esqueça disso,

    garota.

    Isso aqui é Flamengo,

    porra!

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